A historia
A igreja do Sacré Coeur de Gentilly está localizada nas proximidades do “périphérique” e da autoestrada A6. A sua imponente altura, a torre e os seus anjos com asas estendidas fazem desta igreja um edifício visível para quem chega à capital e bem conhecido da paisagem parisiense, embora ninguém realmente a conheça bem. Então, eis aqui um pouco da sua história…
Criada em 1920, a Cidade Universitária de Paris reúne estudantes de mais de cinquenta nacionalidades. Preocupados em manter uma vivência espiritual, a par da actividade científica e intelectual da Cidade Universitária, o Padre Picard de La Vacquerie (1893-1969), capelão da Casa internacional dos estudantes católicos, concebe o projecto de construir uma igreja. No entanto, nenhum local de culto poderia ser criado na área reservada aos edifícios universitários, porque os fundadores da cidade queriam manter aí um carácter internacional e secular. O lugar escolhido para a construção da igreja situa-se perto do campus universitário, num terreno privado de Gentilly adquirido para este efeito.
O Padre Picard de La Vacquerie procura então um financiador. A construção da igreja será financiada por Sr. Pierre Lebaudy, um rico industrial do açúcar, que trabalhava muito em favor de obras sociais. O projecto de construção da igreja é subitamente interrompido pela morte acidental de Pierre Lebaudry em 1929. A Sra. Lebaudry continua a obra de seu marido. As primeiras plantas foram elaboradas em 1931 por Pierre Paquet (1875-1959), um arquitecto independente, mas ao mesmo tempo arquitecto dos Monumentos Históricos. Foi auxiliado pelo seu filho, Jean-Pierre Paquet (1907-1975), inspector geral dos monumentos de França.
A construção começará em 1933 e os trabalhos irão durar 3 anos. A igreja será consagrada em 1936 e inaugurada pelo Cardeal Verdier, a 20 de Novembro de 1936.
Separada da Cidade Universitária, em 1960, pela construção do “périphérique”, a igreja deixa de estar ao serviço dos estudantes católicos depois de 1968. A igreja do Sacré Coeur de Gentilly foi então confiada à comunidade Portuguesa de Paris, que nela se reúne desde 1979.
O edifício está agora protegido e foi incluído no inventário suplementar dos monumentos históricos a 6 de Setembro de 2000.
A arquitectura
Os arquitectos Pierre e Jean-Pierre Paquet esboçam vários projectos e alguns estudos a partir de 1931. A Sra. Lebaudy pronunciou-se a favor de uma igreja com cúpula, acompanhada por uma grande torre sineira muito alta que se pode entrever de muito longe. É então um estilo neo-românico associado a uma construção de tipo bizantino que podemos actualmente admirar com uma torre de 62 metros de altura, decorada com quatro anjos em bronze, e uma cúpula central. A torre, implantada contra a fachada é encimada por uma seta em pedra calcária.
Construída em betão armado, elemento típico da época, e lajes de calcário de Saint-Maximin, a igreja do Sacré Coeur de Gentilly é desenhada sobre um plano de cruz latina com uma só nave. Está coberta por uma cúpula no cruzamento do transepto. Colunas gémeas, com fustes curtos e decoradas com placas de mármore reconstituído, apoiam os elevados arcos. O conjunto é recoberto de uma camada de gesso encrespado e a cobertura do telhado é em chumbo. Talentosos artistas participaram na ornamentação de um vasto conjunto decorativo: o escultor Georges Saupique (1889-1961), o mestre vitralista Jacques Gruber (1870-1936) e o pintor Angel Zarraga (1886-1946).
A igreja do Sacré Coeur de Gentilly é hoje um edifício protegido. Está incluído no inventário suplementar dos monumentos históricos desde 6 de Setembro de 2000.
- Fachada
- Torre do sino
- Órgãos grandes
- Afresco da Ressurreição de Cristo
- Fontes batismais e afresco do Batismo de Cristo
- Vitrais laterais
- Vitrais da cúpula
- Vitrais do altar-mor
- Altar
- Esculturas da Virgem e do Sagrado Coração de Jesus
- Tabernáculo
- Nossa Senhora de Fátima
- Via-Sacra
Os vitrais
Jacques Gruber (1889-1961), incontornável mestre vitralista dos anos 30, realizou, em 1935, o conjunto dos vitrais da igreja, entre miniaturização e estilização geométrica. Ele mesmo se terá ocupado das 18 janelas da igreja, dos 12 vãos da cúpula representando os signos astrológicos, e dos 5 vãos figurativos da ábside, representando Cristo crucificado, rodeado pelo São Pedro e São Paulo.
A cruz de altar
A cruz de altar foi realizada por Emile Guillaume em 1936. O Cristo é em bronze fundido e a cruz é em bronze, em parte prateado e em parte dourado.
O órgão de tubos
O grandioso e histórico órgão de tubos foi construído pela oficina de Jacquot Lavergne de Rambervillers, na região de Vosges e entregue e montado em 1938. É composto por dois teclados de 61 notas cada e uma pedaleira de 32 notas. A tubulação está disposta em duas traves de membranas de 61 e 49 notas.
A Via-Sacra
No interior da igreja, a Via-Sacra é representada por 14 frescos realizados em 1936 por Angel Zarraga (1886-1946), pintor e muralista mexicano. Utilizou um método de pintura com cal aquecida, aplicada directamente sobre o cimento das paredes.
As pinturas alinham-se a meia altura da nave da igreja e terminam na capela-mor, onde se encontram as estações da Ressurreição. O artista mexicano apresenta nas suas pinturas um Cristo jovem, desarmado e vestido duma túnica vermelha. Expressionista e simbolista ao mesmo tempo, o artista apresenta pormenores inesperados como as mãos peludas, prontas para arrancar a túnica de Cristo na X estação, S. João levando a coroa de espinhos na XIV estação, as pontas das lanças e a cruz erguida na I estação.
Dois outros frescos foram feitos pelo pintor:
- O Baptismo de Cristo, colocado um pouco acima da fonte baptismal, representando São João Baptista, que segura na sua mão direita uma concha, enquanto baptiza Cristo ajoelhado. Trata-se ainda do único fresco assinado pelo autor.
- A Ressurreição de Cristo, que domina a lanceta posterior esquerda da nave.
A fachada
É uma fachada imponente e impressionante, que encanta o olhar.
Imponente pelas suas dimensões: 24 metros de altura e 22,60 metros de largura.
Impressionante, dado que a escultura realizada em pedra de Lavoux (Vienne) estende-se por 200 metros quadrados e conta com 120 figuras.
A obra de Georges Saupique (1889-1961) inspira-se inteiramente no estilo da arte românica e oferece uma iconografia esculpida e uma multiplicidade de cenas:
- No centro, Cristo em Majestade, abençoando com a mão direita e sustentando o livro da vida com a mão esquerda.
- Cristo é rodeado pelos símbolos dos quatro evangelistas: o touro (S. Lucas), o leão (S. Marcos), o anjo (S. Mateus) e a águia (S. João).
- Lateralmente, estão representadas oito cenas bíblicas, colocadas de baixo para cima, segundo a ordem do relato evangélico: a Anunciação, a Visitação, o Nascimento de Jesus, a Apresentação noTemplo (de um lado), a Última Ceia com os Apóstolos, o Jardim das Oliveiras, a Apresentação de Cristo a Pilatos e a Crucifixão (do outro).
- Por cima de Cristo, uma pomba, símbolo do Espírito Santo, esculpida dentro de um triângulo, simbolizando a Santíssima Trindade.
- Encontra-se de seguida, lateralmente, os dois doadores, Sr. e Sra. Lebaudy, ajoelhados diante dos seus santos patronos S. Pedro e Sta Margarida, ao lado de S. Miguel e de S. João combatendo o dragão.
- Os últimos 3 painéis do topo representam anjos e arcanjos.
- De lado, foram esculpidos os Padres da igreja do Ocidente: Santo Agostinho, São Gregório Magno, Santo Ambrósio e São Jerónimo.
- Acima da porta estão esculpidos os principais monumentos de Paris.
- As personagens ilustres da história católica da Universidade de Paris estão colocadas alternadamente em ambos os lados da porta: Frederico Ozanam, R.P. Lacordaire, Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier, São Francisco de Sales e M. Olier, São Boaventura, Jean Gerson, Santo Alberto Magno e S. Tomás de Aquino, Ricardo e Hugo de São Victor, São Bernardo, Suger, abade de Saint Denis, Carlos Magno e Alcuíno, S. Luís e Roberto de Sorbonne.
Os Anjos
No alto do campanário da igreja, quatro anjos de pé recolhem-se, cabeça inclinada, mãos postas em oração e asas abertas, e acolhem assim paroquianos e visitantes.
Estes anjos foram feitos em bronze pelo escultor Georges Saupique (1889-1961) em 1936. Cada um pesa 2 toneladas e mede 5,60 metros.